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Cabo que se arrebentou em peça não resiste ao calor

Heitor Cavalheiro foi responsável por todo o sistema de voo que existia em ‘Xanadu’. Ele também é muito requisitado por diretores.

Veja o video : http://tinyurl.com/7r7u8uv

Na peça, Danielle Winits era Kira, a deusa da dança, que ajuda o jovem Sonny, personagem de Thiago Fragoso, a abrir uma discoteca. Em uma das cenas, os dois atores são suspensos sobre a plateia para dar a ilusão de que estão voando.


A estrutura era formada por dois conjuntos de motores, um em cima de palco e um em cima da plateia.

De cada um deles saíam quatro cabos, que eram presos à atriz Danielle Winits. Thiago Fragoso ficava preso só no cinturão dela.

O movimento de voo acontecia quando os dois motores trabalhavam sincronizados: um puxando e o outro liberando a corda.

Heitor Cavalheiro foi responsável por todo o sistema de voo que existia em ‘Xanadu’. Ele também é muito requisitado por diretores, principalmente de musicais no Brasil, porque ele usa esses cabos que são muito finos e muito fáceis de serem escondidos em qualquer cenário.

“O fio que foi usado no espetáculo é o que a gente usa em todas as produções, em todos os sistemas de voo”, conta o diretor de efeitos especiais Heitor Cavalheiro.

Segundo Heitor, o acidente aconteceu quando os quatro cabos que saíam do motor que ficava em cima da plateia se romperam ao mesmo tempo. Os atores ficaram presos a outros quatro cabos e fizeram um movimento de pêndulo, antes de cair. Eles estavam a cinco metros de altura.

Um espectador fez um vídeo logo depois do acidente.

“Assim que eles caíram, eu mesmo não acreditei que foi um acidente. Achei que era parte da peça”, conta Lucas Huguenin.

No vídeo, Danielle Winits pode ser vista primeiro em cima da poltrona em que caiu, e depois se levantando. O ator Sidney Magal, que também trabalha em "Xanadu", subiu ao palco, cerca de 20 minutos depois, para dar explicações. “Obviamente vocês já compreenderam, era uma coisa que não esperávamos que acontecesse”, disse Magal.

“Quatro cabos. Como que duas toneladas de resistência simplesmente se romperam? Isso é algo que não é o que é feito para acontecer. A gente está esperando, de fato, o laudo da perícia para entender como esses quatro cabos se romperam”, afirma Heitor Cavalheiro.

“Mau uso ou uma instalação não adequada poderia levar a esse rompimento”, explica a professora de engenharia de materiais da Coppe/UFRJ Marysilvia Ferreira. “A outra coisa é se ele ficar em contato com alguma coisa que cause fricção no cabo. Aí, ele pode se romper, também”, acrescenta ela.

Como os cabos estavam no ar, não havia, segundo o responsável, ponto de fricção.
Em uma montagem do Sítio do Pica Pau Amarelo, em 2008, em São Paulo, uma atriz caiu sobre o palco, de uma altura de dois metros, e não se feriu. O sistema também era da empresa de Heitor Cavalheiro.

“O sistema era totalmente diferente. A gente não tinha ainda tanta tecnologia como a gente tem hoje envolvida nos sistemas. Naquela ocasião o que aconteceu foi uma falha humana, o técnico que engatava a atriz não fez o engate bem feito e ele abriu quando a pessoa estava voltando”, explica Heitor.

O Fantástico testou a resistência do cabo ao calor, usando apenas um isqueiro. Em três segundos, o cabo se rompe. No segundo teste, o cabo foi colocado próximo a uma lâmpada de 500W, que é uma potência muito inferior às usadas no teatro. O cabo também foi esticado a uma tensão muito menor do que a que ele estava na hora do voo dos atores. Em poucos minutos, o cabo se rompeu.

“Ele é, quimicamente, bastante resistente. Termicamente, ele já não é um material tão resistente. Aquecimento e fricção, por exemplo, isso poderia levar a um rompimento. A perícia tem condições de identificar o tipo de mecanismo que levou ao rompimento”, diz Marysilvia Ferreira.

O Fantástico perguntou a Heitor Cavalheiro, por telefone, se haveria possibilidade de uma lâmpada ter arrebentado o cabo.

“Não. Não acredito porque o cabo resiste até 70 graus. Você precisaria ter um foco de luz que superasse 70 graus. Não tinha nenhuma luz diretamente acima do cabo”, afirma Heitor.

O equipamento que apresentou defeito em “Xanadu” foi usado em outras peças, como "As bruxas de Eastwick", em que três atrizes eram suspensas.

“É muito impressionante, porque você olha para cima e as pessoas tão voando sem você ver os cabos”, conta Charles Möeller, um dos diretores de "As bruxas de Eastwick".

“O público adora ver os atores voando. É circo. Quando a gente era garoto, no circo, as pessoas voavam também”, acrescenta Claudio Botelho, um dos diretores de "As bruxas de Eastwick".

“Tem que lembrar que desde que o teatro é teatro as pessoas voam”, completa Charles Möeller.

Em um vídeo, podemos ver Heitor preparando as atrizes Maria Clara Gueiros, Sabrina Kogut e Renata Ricci.

“A gente não só levantava no sentido vertical, quanto ia para a frente, para a platéia, e voava a seis metros da plateia”, lembra Maria Clara Gueiros, atriz.

“Das três, sempre fui a mais destemida, lá em cima eu queria girar, só o figurino que impedia”, revela a atriz Renata Ricci.

Renata e Sabrina também fazem parte do elenco de “Xanadu”.

“Eu estava presente na hora do acidente. Eu vi tudo acontecer. Não tinha pessoal gritando, não tinha pânico não”, garante Sabrina Kogut.

A diretora Sura Berdichevski foi uma das pioneiras no uso de cabos em teatro no Brasil. No início dos anos 90, ela já fazia Peter Pan voar.

“Puxavam na mão. Então, era uma questão de peso mesmo, de equilíbrio de peso. Um trabalho, mesmo, braçal”, explica Sura.

A tecnologia dos cabos avançou muito. Hoje, até o cantor Luan Santana voa no show.

“É tudo por máquina, tudo por controle remoto, os movimentos já são pré-programados. Todo show é mesma coisa, eu vou, volto, desço, subo, tudo certinho, tudo programado”, garante Luan.

Mas, mesmo com toda a tecnologia, acidentes podem acontecer. No Rock in Rio de 2011, Claudia Leitte sofreu um imprevisto a cinco metros de altura.

O laudo da perícia que vai apontar o que aconteceu com os atores de “Xanadu” sai em um mês.


“Eu acho que o show não pode parar. Nem o Thiago ia querer que o show parasse, nem a Dani também. Com certeza, nossos colegas de trabalho, a gente quer muito que eles voltem rápido”, fala Sabrina Kogut.

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